Modificações orgânicas

Atitudes e mitos

Processo de socialização

Aspectos fisiológicos

Aspectos afectivos

Aspectos sociomorais

Grupo de pares  

Conformismo / inconformismo

Desenvolvimento psicossexual – Freud

Desenvolvimento intelectual – Piaget

Desenvolvimento Psicossocial – Erickson

Estádio genital

Aspectos intelectuais

Estádio Formal

Moratória psicossocial

Construção da identidade

5ª Idade

Aspectos intelectuais

 

    1. Objectivos

 
 

    • Compreender a adolescência como um momento de maturidade da infância/transição para o jovem adulto.

    • Compreender que adolescência humana é fenómeno do desenvolvimento único e singular.

    • Reconhecer a existência de atitudes e mitos sobre a adolescência.

    • Compreender a formação da identidade como a tarefa fundamental da adolescência.

    • Identificar as diferentes formas de procura de identidade – a busca de papel sexual, de carreira ou profissão, de realizações pessoais.

    • Compreender o papel das atitudes de conformismo e/ou rebeldia, vivenciadas pelo adolescente.

    • Identificar o conceito de moratória psicossocial como um período de espera, de experimentação e de ajustamentos dos vários papéis sociais.

    • Reconhecer a existência de várias moratórias possíveis.

 
 

    1. Introdução

 

A psicologia do desenvolvimento estuda as mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais que ocorrem ao longo da vida.

Como tal, tem por objecto o próprio ser humano em permanente evolução, analisando as várias etapas da vida – infância, adolescência, fase adulta e velhice.

Das etapas referidas, a adolescência é muito importante, porque representa um período desenvolvimental de transformação e de experimentação/exploração no sentido da procura e construção da identidade (profissional, social e sexual). Daí que este período de desenvolvimento específico seja de considerável importância e mereça um estudo aprofundado.

A temática do desenvolvimento é abordada de diferentes formas consoante os autores: Piaget considera uma dimensão cognitiva, Freud psicossexual e Erikson psicossocial. 
 
 

    1. Conceito de adolescência

 

A adolescência é um processo dinâmico que medeia a infância e a idade adulta: inicia-se com a puberdade e termina com a aquisição da identidade, da autonomia, bem como da elaboração de projectos de vida e de integração na sociedade.

Os seus limites cronológicos variam e, se é fácil definir biologicamente o início da puberdade, já é mais complicado situar o término da adolescência, pois baseia-se em critérios psicológicos, sociais e culturais e, como tal, mais variáveis. Assim não se pode definir rigorosamente qual é a duração da adolescência, variando de caso para caso. 

Podemos, pois, afirmar que existem muitas adolescências, conforme cada infância, cada fase de maturação, cada família, cada época, cada cultura, cada classe social. Generalizando, pode-se considerar que a adolescência abrange um período entre os 12 – 13 anos e os 18 anos, havendo uma discrepância entre os sexos. 
 

    1. Adolescências

 

A ambivalência da adolescência relaciona-se com as transformações globais que ocorrem no indivíduo e que tornam este nível etário de difícil compreensão pelos outros e pelos próprios. Caracteriza-se por um período de inquietação devido a sentimentos antagónicos que se confrontam: autonomia/dependência, crescer/regredir... 
 
 

    1. Adolescência e desenvolvimento

 

Assim, a adolescência não pode ser compreendida sem se ter em conta os aspectos psicológicos, físicos, cognitivos, socioculturais e económicos. 
 

Aspectos fisiológicos 
 

  • Mudanças corporais (caracteres sexuais secundários) devido à segregação e libertação para a corrente sanguínea das hormonas (estrogénios e progesterona nas mulheres e testosterona nos homens) pelas glândulas sexuais;

  • Início do funcionamento dos orgãos sexuais, que vão marcar a sexualidade adolescente por uma genitalidade e possibilitam a capacidade da função reprodutora, adquirindo o sistema endócrino um papel fundamental nas transformações que ocorrem na puberdade.

 

Aspectos afectivos 
 

  • O jovem tem tendência a isolar-se, a voltar-se para si próprio, para se entender mais profundamente enquanto pessoa;

  • O melhor amigo surge como o confidente e o companheiro nas transformações sentidas;

  • Os adolescentes vivem com grande ansiedade as transformações do seu corpo;

  • Mudanças de humor súbitas;

  • Os modelos de identificação deixam de ser os pais e passam a ser o grupo de pares;

  • O adolescente tem de assumir uma imagem corporal sexualizada.

 

Aspectos intelectuais 
 

  • Obtenção de maturidade intelectual: o pensamento formal vai abrir novas perspectivas – o jovem vai criticar, interrogar o futuro e a sociedade.

  • Desenvolvimento do raciocínio hipotético-dedutivo: o adolescente vai projectar a sua vida para o futuro (pode jogar mentalmente com várias hipóteses).

  • Capacidade de abstracção: existência da reflexão antes da acção.

  • Segundo Piaget verifica-se a construção de um sistema pessoal – egocentrismo intelectual: o jovem sente-se o centro e as suas teorias sobre o mundo aparecem como as únicas correctas.

 
 
 
 

Aspectos sociomorais 
 

  • O jovem interessa-se por problemas éticos e ideológicos: defende os seus valores com grande radicalidade;

  • Desejo de uma perfeição moral

  • Expressão de um grande altruísmo por parte dos adolescentes

  • Há a consciencialização do novo estatuto e papel na comunidade.

 
 

    1. Processos de socialização

 

      Construção da Identidade (Grupo de pares) 
 

      Aquando da adolescência, é construída uma identidade pessoal, sexual e psicossocial.  O sentimento de identidade de Erik Erikson, consiste no sentimento de ser o mesmo ao longo da vida (“mesmidade”- sameness), ultrapassando modificações a nível pessoal e outras.

      O jovem atravessa esta crise de identidades, que se enquadra na 5ª Idade (Idade VS Difusão/Confusão). A construção da identidade, o ego, é resultado de avanços, recuos e hesitações.

      A adolescência implica confusão, perturbação de valores, inibições, crises neuróticas e psicóticas, ocorrendo adolescências retardadas e prolongadas, com um elevado grau de isolamento e com mecanismos defensivos.

      É das interacções com o meio, das relações estabelecidas, reais ou fantasiadas que resulta o próprio eu.

      Os modelos de identidade são transferidos dos pais para os adolescentes da mesma idade, de modo a permitir a construção de ideias e afectos próprios. Ao melhor amigo é atribuído um papel fundamental, sendo a entidade com quem se partilham inquietações.

      À luz das ideias de Erikson, a constituição de grupos de pares pode assumir um modelo de identificação positivo para o adolescente, na medida em que o grupo pode dar certezas, mas, por outro lado, poderá criar grande dependência.

      A escola representa, igualmente, um mundo de adultos.

      O jovem constrói a sua identidade por um processo de identificação e diferenciação, com os olhares que troca. É no final da adolescência que o jovem adquire uma “identidade realizada”, referenciada por Erikson. É também na sociedade que são criados determinados estereótipos sociais e grupais, como é o caso dos heróis. 

      Conformismo/ Inconformismo

 

      A adolescência caracteriza-se por uma grande ambivalência de crescer e de regredir. O adolescente projecta-se no futuro mas sempre com uma ligação com o passado, procura a sua autonomia e dependência, existindo um conflito entre o sentimento de criança e de adulto.

      O prolongamento do período de escolaridade contribui para a dependência familiar e social do adolescente, sendo-lhe, no entanto, exigidas autonomia e responsabilidade, o que implica expressões contraditórias e paradoxais. É devido a esta indefinição do estatuto social do adolescente que assenta o mal-estar sentido pelos jovens. Esta dependência poderá conduzir a um conformismo por parte do adolescente na medida em que este adquire normas e atitudes cultivados no seio familiar.

      Contudo, a adolescência não é, necessariamente, uma fase perturbada, visto ser aqui que grande parte dos problemas, que advêm da passagem da fase jovem para adulto, é ultrapassada, sendo relevante o aspectos socioculturais nesta mudança.

      Esta passagem para a fase adulta é, em muitas sociedades primitivas, alvo de rituais iniciáticos, que introduzem o jovem na sociedade, assegurando o seu reconhecimento por parte dos outros membros da sociedade, tal como se encontra implícito no texto de Claes: “... Podem ser celebrados durante uma festa alegre ou em cerimónias impressionantes que implicam provas perigosas, ridicularizações físicas e toda uma cirurgia ritual como a limagem dos dentes, as escarificações, a circuncisão, etc. (...) ”. 

      Assim, podemos determinar o final da adolescência quando o jovem adquire a sua própria identidade, autonomia e capacidade de enfrentar todas as dificuldades e adversidades. O jovem insere-se na sociedade, toma decisões, aceita compromissos e elabora projectos de vida, desempenhando um papel activo. As tarefas desenvolvimentais foram já cumpridas, no sentido em que o jovem já afirmou a sua identidade pessoal, sexual e psicossocial, acompanhados com a aquisição de autonomia e interiorização de normas sociais.

      Podemos, então, afirmar que a adolescência se enquadra entre os 12/13 anos até aos 18 anos de idade.

      Assim, o inconformismo enquanto reacção de não-aceitação de normas, valores e ideais estipulados pela sociedade envolvente, remetem o jovem para um egocentrismo cognitivo caracterizado pela sua crença na capacidade de resolução de todos os problemas. Consequentemente, tais normas sociais não são, muitas vezes, passivamente aceites, tais como as referidas anteriormente.    
 
 

    1. Desenvolvimento psicossexual – Freud

 

Freud explica o desenvolvimento humano pela evolução da psicossexualidade.

Desde que nasce, a criança procura obter prazer – que, para Freud é sempre de carácter sexual – através de diferentes formas, que vão variando ao longo do seu desenvolvimento.

Existem estádios em cada um dos quais predomina uma zona erógena diferente, embora o prazer possa abranger todo o corpo e atingir o indivíduo como um todo.

Na infância, o indivíduo centra-se em si mesmo de forma a obter prazer, ou seja, a sexualidade é auto-erótica. Só a partir da adolescência começa a dirigir a sua sexualidade para outra pessoa, como forma de obter prazer.

A adolescência é estudada por Freud no estádio genital e compreende os fenómenos que ocorrem depois da puberdade.

Segundo este psicanalista, no estádio genital retomam-se algumas problemáticas do estádio fálico (compreendido entre os 3 e os 5/6 anos), como o Complexo de Édipo. 

A puberdade traz novas pulsões sexuais genitais, sendo o mundo relacional do adolescente alargado a pessoas exteriores à família. Tal facto permite que o adolescente passe por um processo de autonomização em relação aos pais idealizados; processo este que é a causa da liquidação do Complexo de Édipo.

Freud considera, ainda, que face a algumas dificuldades características da adolescência, o jovem regride a fases desenvolvimentais anteriores, recorrendo a mecanismos de defesa do ego como, por exemplo, o ascetismo (negação do prazer através do isolamento) e intelectualização ou racionalização (o jovem coloca toda a sua energia em actividades do pensamento como forma de esconder aspectos emocionais). 
 
 

    1. Desenvolvimento intelectual – Piaget

 

Segundo Piaget a adolescência situa-se no quarto estádio do desenvolvimento humano, o estádio das operações formais que se situa entre os 11 anos até cerca dos 15/16 anos. 

Estádio Idades Principais características
Operações formais 11/12 anos

até

15/16 anos

Pensamento abstracto.

Maturidade intelectual.

Raciocínios hipotético-dedutivos.

Definição de conceitos e de valores.

Egocentrismo intelectual.

 
 

      A partir desta altura a criança/adolescente já é capaz de fazer operações sem o suporte da manipulação de objectos. As operações passam a ser realizadas a um nível absolutamente verbal e conceptual, sendo capaz de efectuar raciocínios hipotético-dedutivos, deduzindo mentalmente a partir de hipóteses abstractas. Tornam-se então capazes de planejar um futuro glorioso, antecipar as consequências das acções, criar explicações alternativas dos eventos transformar o mundo pela palavra e suspender as próprias crenças.  Os adolescentes tornam-se mais capazes de pensar sobre o que é possível sem limitar o seu pensamento sobre o que é real, movem-se mais facilmente entre o específico e o abstracto, geram sistematicamente possibilidades alternativas e explicações, exercita ideias no campo do possível e formula hipóteses. O pensamento passa a revelar uma natureza auto reflexiva. Com estas capacidades começa a definir conceitos e valores. 
 

      As principais características da adolescência são:

  • A capacidade de abstracção, realizando operações mentais sem necessidade de referência a objectos concretos, as operações lógicas dão-se no plano das ideias sem necessidade de apoio da percepção, havendo capacidade de generalização, análise e síntese;
  • O predomínio de esquemas conceituais abstractos e a utilização de uma lógica formal-proposicional, raciocínio hipotético-dedutivo que deduz as conclusões apenas de puras hipóteses sem recorrer a uma observação do real;
  • Egocentrismo cognitivo, pois acredita ser capaz de resolver todos os problemas que aparecem, considerando as suas próprias conclusões como as mais correctas – crença na omnipotência da reflexão, como se o mundo se tivesse que submeter aos sistemas e não os sistemas à realidade. Atribui um poder ilimitado ao seu pensamento;
  • Existência de uma fase não social, onde há uma interiorização de valores e conceitos e um auto conhecimento. Condena, despreza e quer mudar a sociedade, depois surge o predomínio dos grupos que se constituem como sociedades de discussão. Sendo a fase de expansão posterior à de fechamento;
  • Durante este estádio de desenvolvimento surge a capacidade de autonomia plena, havendo uma moral individual, onde estão definidos os próprios valores. Consegue já compreender relações de reciprocidade, coordenação de valores e de cooperação;
  • É a idade metafísica por excelência. O “eu” é bastante forte para reconstruir o universo e bastante grande para o incorporar a si.
 

Piaget explica que ocorrem diferenças no ritmo do desenvolvimento entre as pessoas e as atribui às variações na qualidade e frequência da estimulação intelectual recebida dos adultos durante a infância e adolescência, aos factores espontâneos e endógenos do indivíduo e à presença de um meio que seja favorável. 
 

Desenvolvimento da inteligência se apresenta de três formas. - Empirismo; Racionalismo e Construtivismo.

No Empirismo encontramos uma teoria afirmando que o desenvolvimento intelectual é determinado pelo meio ambiente, pela força exercida sobre o mesmo. É de fora para dentro. Nessa linha o indivíduo não nasce inteligente, são os estímulos externos que desencadeiam reacções, as quais ficam sujeitas à assimilação ou não. O desenvolvimento da inteligência estaria nestes estímulos e não no ser humano.

      No Racionalismo encontramos uma teoria afirmando que o desenvolvimento intelectual é determinado pelo sujeito e não pelo meio. De dentro para fora. O indivíduo nasce inteligente e de acordo com suas percepções do meio reorganiza suas ideias. A capacidade de cada ser humano determina como ele percebe a realidade e isto independente de estímulos externos.

      No Construtivismo encontramos uma teoria afirmando que o desenvolvimento intelectual é determinado pela relação do sujeito com o meio. Nessa linha de pensamento o indivíduo não nasce inteligente, entretanto não pode ser considerado como um dependente dos agentes externos. Tendo em vista a sua interacção com o ambiente, dando sequência a factores internos e externos, seja respondendo aos estímulos, analisando, organizando e construindo seu conhecimento através de um processo contínuo de fazer e refazer. Ainda nessa linha, despontam alguns princípios básicos que são: - respeito à produção do aluno; espaço para o aluno testar suas hipóteses e o trabalho em grupo. 
 
 
 
 

    1. Desenvolvimento psicossocial – Erikson
 

Apesar de partilhar dos pressupostos freudianos (afinal foi seu discípulo), Erikson não enfatizou a pulsão sexual, optando por revelar o aparecimento gradual da identidade do indivíduo. Não considera que no final da adolescência a identidade esteja totalmente formada, e assim considera oito idades no desenvolvimento do ciclo de vida, desde o nascimento até à morte. Foi sobre a dimensão psicossocial do desenvolvimento que ele se debruçou, considerando fundamentais as relações do indivíduo no meio em que se insere. Em cada etapa do desenvolvimento (estágios psicossociais) ocorrem pressões do ambiente social que vão ser geradoras de conflito ou crise. A crise oferece à pessoa em desenvolvimento a possibilidade de uma saída, uma forma de lidar mais ou menos adaptativa. É possível influenciar e dirigir conscientemente o desenvolvimento em cada estágio. Acontecimentos ou experiências em estados posteriores podem contribuir para superar experiências infantis negativas ou traumáticas, e assim formar a identidade.

Os oito estádios considerados por Eriksson são:

  • 1ª Idade – Confiança versus Desconfiança (0-18 meses)
  • 2ª Idade – Autonomia versus Dúvida e Vergonha (18 meses-3 meses)
  • 3ª Idade – iniciativa versus Culpa (3-6 anos)
  • 4ª Idade – Indústria/Mestria versus Inferioridade (6-12 anos)
  • 5ª Idade – Identidade versus Difusão/Confusão (12 – 18/20 anos)
  • 6ª Idade – Intimidade versus Isolamento (18/20 anos – 30 e tal anos)
  • 7ª Idade – Generatividade versus Estagnação (30 e tal – 60 e tal anos)
  • 8ª Idade – Integridade versus Desespero (depois dos 65 anos)
 

5ª Idade: Crise da Adolescência: Identidade vs. Confusão de Papéis (12-18) 

A adolescência tem uma posição de destaque na teoria de Erikson, principalmente porque ele considera o período particularmente decisivo na formação da identidade. Assim, é na adolescência que o indivíduo desenvolve os pré-requisitos de crescimento fisiológico, maturidade mental e responsabilidade social que o preparam para experimentar e ultrapassar a crise da identidade (Erikson, 1976).

Para ele, esta crise incorpora elementos de todas as outras. Nesta fase há como que uma conclusão das crises anteriores e uma antecipação das três que se seguirão dos estádios posteriores. 
 

Autocerteza vs. Inibição: 
 

O jovem deve acreditar que, em concordância com todo o seu passado, se propicia o alcance dos seus objectivos na idade adulta (autocerteza). Esta confiança em si baseia-se no sentimento de autonomia adquirido na segunda idade e, caso não haja reconhecimento de si como capaz e como ser autónomo, surge a inibição, relembrando o versus negativo do mesmo estádio psicossocial: a vergonha e a dúvida. 
 

Experimentação de papel vs. Fixação de Papel: 
 

Durante a adolescência ocorre uma experimentação de papéis geralmente de acordo com as regras tradicionais das sociedades adolescentes. Estas experimentações relembram as explorações de papéis infantis, e pode ocorrer a iniciativa que leva a todas as possíveis escolhas ou o sentido de culpa que impede o sentimento de posse interna, bloqueando as possibilidades e levando a um tipo de fixação de papel (identidade negativa). 
 

Aprendizagem vs. Paralisia Operacional: 
 

A escolha profissional constitui um elemento relevante na emergência da identidade do jovem, escolha esta que se apoia nas capacidades adquiridas durante o estágio anterior. O sentido de inferioridade leva a uma paralisia operacional no adolescente enquanto o sentimento de produtividade leva a uma exploração de sua vocação futura. 
 

Polarização Sexual vs. Confusão Bissexual: 
 

O adolescente passa por uma antecipação da futura intimidade heterossexual, que deverá ser alcançada no começo da idade adulta. Ocorre uma polarização sexual que presume clara identificação com um dos sexos e que levará ao sentido próprio de identidade. A confusão bissexual revelada por uma insegurança pode ser expressa por um prematuro início da intimidade física ou pela evitação do contacto sexual. São frequentes os períodos de actividade genital promíscua, abstinência sexual ou jogo sexual sem engajamento genital, como períodos de ajustamento temporários, mas que permitirão o estabelecimento de um equilíbrio, mais em direção à intimidade do que ao isolamento. 
 

Liderança e Sectarismo vs. Confusão de Autoridade: 
 

A expansão dos horizontes sociais do adolescente e sua participação na comunidade, ajudam-no a determinar como ele enfrentará a crise da generatividade versus estagnação na meia idade. Ele aprenderá a tomar a responsabilidade de liderança ou experimentará um sentido de confusão de autoridade (o estado, sua namorada, seus pais, seu patrão, seus amigos têm um impacto sobre ele). Para resolver a confusão, deve comparar os valores divergentes com os seus e formular a sua identidade pessoal. 
 

Comprometimento Ideológico vs. Confusão de Valores: 
 

Deve acreditar que seus próprios objectivos (o que fez, o que faz e o que pretende fazer) são significativos no contexto da sociedade, que esta os aprova e lhe dá apoio. Assim poderá chegar a uma ideologia pessoal que o ajuda a evitar a confusão de valores. Para Erikson esta crise prenuncia o conflito da integridade versus desesperança, na medida em que uma ideologia ou filosofia pessoal facilita ao jovem resolver conflitos na vida, permitindo um sentido de integridade na velhice. 
 

Moratória psicossocial 
 

Um dos aspectos decisivos para a futura vida de adulto é, segundo este autor, a passagem do adolescente por um período de alheamento aparente mas que é, na realidade, um período de procura e especulação – é a fase da moratória psicossocial. Este é um período profundamente criativo: o jovem pesa a sua vida tendo em vista o futuro: revê e re-experimenta mentalmente os vários papéis sociais que até aí desempenhou, tentando ajustar-se àqueles que melhor se coadunam com os seus sonhos e os seus projectos.

Alguns adolescentes têm um período de moratória muito curto, e cedo realizam escolhas, partindo logo para o investimento e compromisso, e, portanto, com reduzida exploração. Outros, pelo contrário, vivenciam inúmeras experiências, e só muito mais tarde assumem investimentos. Existe uma grande variedade de dimensões a explorar e mudanças a efectuar, pelo que o nível de exploração pode ser diferente em cada área da sua identidade, ou seja, se numa dessas áreas o adolescente está em exploração activa, noutra pode já ter realizado uma escolha, e ainda noutra pode nem sequer ter começado a experimentar coisas diferentes.

Pode falar-se de moratória profissional durante os anos de estudo, quando o adolescente antevê a sua futura vida profissional, de moratória sexual-afectiva nos anos de namoro ou de “paixonetas” breves, quando antevê o futuro de pessoa casada ou possíveis relações amorosas que possa vir a ter.

Sem a moratória nunca o jovem se tornaria adulto; a fase de preparação da idade adulta exige toda essa antevisão do futuro, sem a qual o adolescente não poderia saber que espécie de pessoa queria vir a ser. 
 
 

    1. Atitudes e mitos
 

Existem alguns mitos, preconceitos e estereótipos que se criam em relação à adolescência e que afectam as atitudes dos adultos. São representações sociais e ideias generalizadas do senso comum que retratam os adolescentes sistematicamente da mesma forma, ignorando a sua individualidade. Estas ideias influenciam os comportamentos e atitudes dos adultos e, muitas vezes, dificultam a sua relação com os adolescentes e a sua capacidade de os compreender. 
 
 

    1. Conclusão – Singularidade humana da adolescência
 

Ao longo da vida passamos por diferentes etapas desenvolvimentais, cada uma delas com características distintas. A adolescência é também um período singular, em que se vivem experiências e encaram questões que nunca antes se tinham colocado e que, dificilmente se repetirão. É uma etapa de grandes transformações a todos os níveis.

O jovem muda fisicamente para assumir nova forma de um corpo adulto. Adquire novas capacidades a nível cognitivo, nomeadamente o pensamento abstracto e o raciocínio hipotético-dedutivo, como foi salientado por Piaget. É também na adolescência que se transforma a relação com os pais, no sentido de uma maior autonomia, e com os amigos, que passam a constituir um ponto de referência e de identificação importante. O adolescente começa a envolver-se em relações de intimidade e partilha, criando uma nova forma de relacionamento e exploração da sexualidade. É também altura de procurar a identidade nestes vários níveis, passando para tal por novas experiências, sensações, forma de pensar sobre o mundo. Surge um mundo novo em que diariamente se experienciam, de forma intensa, situações inéditas. 
 

 

 

  • Glossário
 

Adolescência – processo dinâmico que medeia a infância e a idade adulta. Inicia-se com a puberdade e termina com a aquisição de identidade e de autonomia, bem como da elaboração de projectos de vida e de integração na sociedade. 
 

Ascetismo – atitude ou mecanismo defensivo que se caracteriza pela autodisciplina e pela renuncia a estados emocionais de prazer. 
 

Cognição – conjunto de processos mentais que inclui todas as formas de conhecimento como percepção, discriminação sensorial, compreensão, raciocínio, julgamento, recordação, imaginação. 
 

Complexo de Édipo – atracção que o rapaz sente pela mãe, mas, ao perceber a relação que esta estabelece com o pai, compreende que não pode concretizar a sua atracção, encarando o pai com um rival. Na rapariga é denominado Complexo de Electra e o processo que decorre é semelhante, ma inverso (atracção pelo pai e rejeição da mãe. No entanto, torna-se um pouco mais complicado porque, estando a criança muito ligada à mãe receia perder o seu amor. A criança vive, pois, um conflito experimentando sentimentos como receios, culpabilidade e agressividade. O complexo de Édipo é resolvido através da renúncia aos desejo sexuais dirigidos ao progenitor do sexo oposto e da identificação com o progenitor do mesmo sexo. É aqui que e constrói o Superego, a partir da inibições e proibições com que a criança se defronta. 
 

Estrutura cognitiva – diz respeito à organização mental e ao conjunto de conhecimentos de uma pessoa. 
 

Imagem corporal – representação afectiva que se faz do próprio corpo (tamanho, forma, peso.). Esta representação esta relacionada com aspectos gerais de autoconfiança e com a forma alta ou baixa de auto-estima que cada um tem. Acrescente-se a influência das vivências da infância – os afectos, as emoções, as relações reais e fantasiadas com os pais. A construção da imagem de corpo é ainda marcada por factores relacionais (a forma como os outros nos representam) e factores socioculturais, tais como a moda e os padrões de beleza. Em períodos de transformações do corpo, como na adolescência, as pessoas confrontam-se, frequentemente, com problemas referentes à imagem corporal de si. 
 

Moratória psicossocial – a sociedade reconhece ao adolescente a necessidade de exploração, dando-lhe a possibilidade de experimentar e de se adaptar a vários papeis sociais sem assumir nenhum compromisso numa direcção concreta. 
 

Pensamento abstracto – capacidade de se desprender do real e raciocinar sem se apoiar em factos, ou seja, o indivíduo não precisa de operacionalizar e de movimentar toda a realidade para chegar a conclusões. 
 

Psicologia de desenvolvimento – ramo da psicologia que se dedica ao estudo da sequencia do crescimento fisiológico, psicológico e social desde o nascimento até à velhice. Uma das tarefas fundamentais é a de caracterizar os diferentes estádios de desenvolvimento. 
 

Raciocínio hipotético-dedutivo – colocação de hipóteses, formulação mental de todo um conjunto de explicações possíveis. 

 

Estádio Idades Principais características
Operações formais 11/12 anos

até

15/16 anos

Pensamento abstracto.

Maturidade intelectual.

Raciocínios hipotético-dedutivos.

Definição de conceitos e de valores.

Egocentrismo intelectual.

 
 

      A partir desta altura a criança/adolescente já é capaz de fazer operações sem o suporte da manipulação de objectos. As operações passam a ser realizadas a um nível absolutamente verbal e conceptual, sendo capaz de efectuar raciocínios hipotético-dedutivos, deduzindo mentalmente a partir de hipóteses abstractas. Tornam-se então capazes de planejar um futuro glorioso, antecipar as consequências das acções, criar explicações alternativas dos eventos transformar o mundo pela palavra e suspender as próprias crenças.  Os adolescentes tornam-se mais capazes de pensar sobre o que é possível sem limitar o seu pensamento sobre o que é real, movem-se mais facilmente entre o específico e o abstracto, geram sistematicamente possibilidades alternativas e explicações, exercita ideias no campo do possível e formula hipóteses. O pensamento passa a revelar uma natureza auto reflexiva. Com estas capacidades começa a definir conceitos e valores. 
 

      As principais características da adolescência são:

  • A capacidade de abstracção, realizando operações mentais sem necessidade de referência a objectos concretos, as operações lógicas dão-se no plano das ideias sem necessidade de apoio da percepção, havendo capacidade de generalização, análise e síntese;
  • O predomínio de esquemas conceituais abstractos e a utilização de uma lógica formal-proposicional, raciocínio hipotético-dedutivo que deduz as conclusões apenas de puras hipóteses sem recorrer a uma observação do real;
  • Egocentrismo cognitivo, pois acredita ser capaz de resolver todos os problemas que aparecem, considerando as suas próprias conclusões como as mais correctas – crença na omnipotência da reflexão, como se o mundo se tivesse que submeter aos sistemas e não os sistemas à realidade. Atribui um poder ilimitado ao seu pensamento;
  • Existência de uma fase não social, onde há uma interiorização de valores e conceitos e um auto conhecimento. Condena, despreza e quer mudar a sociedade, depois surge o predomínio dos grupos que se constituem como sociedades de discussão. Sendo a fase de expansão posterior à de fechamento;
  • Durante este estádio de desenvolvimento surge a capacidade de autonomia plena, havendo uma moral individual, onde estão definidos os próprios valores. Consegue já compreender relações de reciprocidade, coordenação de valores e de cooperação;
  • É a idade metafísica por excelência. O “eu” é bastante forte para reconstruir o universo e bastante grande para o incorporar a si.
 

Piaget explica que ocorrem diferenças no ritmo do desenvolvimento entre as pessoas e as atribui às variações na qualidade e frequência da estimulação intelectual recebida dos adultos durante a infância e adolescência, aos factores espontâneos e endógenos do indivíduo e à presença de um meio que seja favorável. 
 

Desenvolvimento da inteligência se apresenta de três formas. - Empirismo; Racionalismo e Construtivismo.

No Empirismo encontramos uma teoria afirmando que o desenvolvimento intelectual é determinado pelo meio ambiente, pela força exercida sobre o mesmo. É de fora para dentro. Nessa linha o indivíduo não nasce inteligente, são os estímulos externos que desencadeiam reacções, as quais ficam sujeitas à assimilação ou não. O desenvolvimento da inteligência estaria nestes estímulos e não no ser humano.

      No Racionalismo encontramos uma teoria afirmando que o desenvolvimento intelectual é determinado pelo sujeito e não pelo meio. De dentro para fora. O indivíduo nasce inteligente e de acordo com suas percepções do meio reorganiza suas ideias. A capacidade de cada ser humano determina como ele percebe a realidade e isto independente de estímulos externos.

      No Construtivismo encontramos uma teoria afirmando que o desenvolvimento intelectual é determinado pela relação do sujeito com o meio. Nessa linha de pensamento o indivíduo não nasce inteligente, entretanto não pode ser considerado como um dependente dos agentes externos. Tendo em vista a sua interacção com o ambiente, dando sequência a factores internos e externos, seja respondendo aos estímulos, analisando, organizando e construindo seu conhecimento através de um processo contínuo de fazer e r